Como as redes sociais nos afetam: entre conexões, vícios e ilusões
- Thalia Luiz
- 3 de jun.
- 4 min de leitura

A era da hiperconexão
As redes sociais são uma das maiores transformações sociais das últimas décadas. Se antes nossa interação com o mundo era limitada ao espaço físico ou a poucas ligações por telefone, hoje é possível saber o que alguém está fazendo em tempo real, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância.
A promessa inicial era positiva: conectar pessoas, democratizar o acesso à informação e fortalecer vínculos. De fato, elas nos proporcionam meios de contato, entretenimento, aprendizado e expressão pessoal. Porém, ao mesmo tempo em que nos oferecem tudo isso, abrem também um terreno fértil para questões mais profundas — especialmente quando olhadas sob uma lente psicanalítica.
O uso excessivo das redes sociais e os efeitos psicológicos
Hoje, grande parte das nossas interações sociais passa pelas telas. Passamos horas rolando feeds, assistindo vídeos curtos e consumindo conteúdos diversos. Isso tem efeitos diretos sobre nossa saúde mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso excessivo de redes sociais pode estar relacionado ao aumento de sintomas de ansiedade, depressão e transtornos do sono, especialmente em adolescentes.
Na prática clínica, é comum ouvirmos relatos de pacientes que se sentem esgotados, ansiosos ou "para trás" em relação aos outros, especialmente após passar muito tempo nas redes. A comparação constante com vidas aparentemente perfeitas é um gatilho potente.
Um estudo publicado no Journal of Social and Clinical Psychology mostrou que limitar o uso das redes sociais a 30 minutos por dia pode reduzir significativamente os níveis de ansiedade e depressão.
Redes sociais e comparação: o espelho distorcido
Nas redes sociais, as pessoas compartilham versões editadas de si mesmas. Quase nunca mostram os momentos difíceis. Isso cria uma ilusão de que todos estão bem, menos você. A psicanálise nos ajuda a refletir sobre como o desejo de aprovação e reconhecimento molda nossas ações. Quando a imagem que mostramos ao mundo passa a ser mais importante do que quem realmente somos, surge o conflito interno.
A busca por curtidas, comentários e visualizações ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina — o mesmo neurotransmissor envolvido em vícios como jogos e drogas. É o que especialistas chamam de "dopamina digital": pequenas doses de prazer que criam dependência e dificultam o afastamento das redes.
Segundo a Universidade de Harvard, essa liberação de dopamina é imprevisível — um post pode viralizar ou não — e isso torna a experiência ainda mais viciante, semelhante a um sistema de recompensas intermitentes.
O impacto do vício em redes sociais
O vício em redes sociais é um fenômeno cada vez mais reconhecido. Um estudo do Sebrae revelou que brasileiros passam, em média, 9 horas por dia conectados à internet, sendo boa parte desse tempo nas redes sociais. Já a plataforma Hootsuite apontou que o Brasil é o 3º país que mais utiliza redes sociais no mundo, atrás apenas das Filipinas e da Colômbia.
Esse consumo desenfreado afeta a produtividade, a concentração, os relacionamentos e a qualidade do sono. Muitas pessoas relatam dificuldades para dormir após longos períodos de rolagem no celular — isso porque a luz azul das telas afeta a produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono.
Além disso, a constante notificação e o estímulo a responder mensagens e interações geram um estado contínuo de alerta, o que pode sobrecarregar o sistema nervoso e contribuir para quadros de exaustão mental.
Crianças nas redes sociais: um alerta necessário
Um ponto preocupante é o acesso cada vez mais precoce das crianças às redes sociais. Apesar das diretrizes das próprias plataformas (como o Instagram e o TikTok, que exigem idade mínima de 13 anos), muitas crianças estão online desde muito cedo.
Elas ainda estão em processo de construção psíquica e não possuem os recursos necessários para lidar com a exposição, a comparação e a rejeição virtual. A psicanálise aponta que esse contato prematuro pode influenciar a formação da identidade e afetar a autoestima de maneira profunda.
Estudos da Common Sense Media mostram que crianças entre 8 e 12 anos já passam, em média, 5 horas por dia conectadas. Essa exposição excessiva pode comprometer o desenvolvimento emocional, a capacidade de concentração e até as habilidades sociais.
Redes sociais e o consumo: criando necessidades artificiais
Além da comparação e da dependência emocional, as redes sociais também exercem um papel central na forma como consumimos. Influenciadores, anúncios direcionados e algoritmos fazem com que sejamos constantemente bombardeados com produtos, serviços e estilos de vida. Mas antes de nos venderem algo, vendem uma ideia: de que há algo em nós que precisa ser corrigido.
Esse mecanismo é sofisticado: cria-se um incômodo (real ou simbólico), para em seguida oferecer uma solução. O corpo "ideal", a pele perfeita, a casa dos sonhos, a rotina produtiva — tudo isso aparece como promessa de felicidade. A psicanálise nos ajuda a questionar: de quem é o desejo que estou seguindo? O meu, ou o que me foi imposto por um sistema que lucra com a minha insegurança?
Como funcionam os algoritmos
As plataformas utilizam algoritmos altamente sofisticados para manter os usuários engajados o maior tempo possível. Esses sistemas analisam seu comportamento, preferências e interações para sugerir conteúdos cada vez mais alinhados com seus interesses — criando uma bolha de informações que reforça crenças, impulsiona o consumo e dificulta o pensamento crítico.
O documentário O Dilema das Redes (Netflix) explica como esses algoritmos são desenhados para manipular a atenção humana. Como resultado, você não está no controle do que consome — o conteúdo é moldado para te prender, mesmo que inconscientemente.
O convite ao olhar interno
Não se trata de demonizar as redes sociais. Elas têm seu lugar e podem, sim, ser fontes de conexão e aprendizado. Mas é preciso estar atento à forma como nos relacionamos com elas.
Como você se sente após passar tempo nas redes?
O quanto da sua autoestima depende da validação virtual?
Você consegue ficar um dia sem acessar?
Que parte sua está sendo alimentada (ou esvaziada) ali?
A reflexão sobre o uso das redes sociais é, também, um caminho para reconectar-se consigo.
Quer aprofundar esse olhar sobre si mesmo e entender melhor seus comportamentos e emoções?
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